sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Dica de Leitura: Os intrusos e Os outros Quebrando o Aquário e Mudando Os Horizontes: As Relações de Raça e Classe na Implementação das Cotas Sociais no Processo Seletivo para Cursos de Graduação da Ufes 2006-2012



A dica de hoje é o estudo do meu amigo, professor e orientador, Professor Doutor Sérgio Pereira dos Santos (Doutor em educação pelo Programa de Pós-Graduação do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo).

"A pesquisa desta tese investiga as mediações das categorias de raça e de classe social no processo de implementação do modelo de cotas sociais da UFES para ingresso nos cursos de graduação, entre 2006 a 2012, como parte das ações afirmativas dessa universidade. Tal modelo, para incluir a população afro-brasileira no ensino superior do Espírito Santo, respeitou estritamente os critérios de renda e de origem escolar publica, não adotando o critério etnico-racial que contemplaria especificamente os negros e os indígenas. Diante disso, o autor busca sustentar a tese de que, considerando o padrão das relações raciais brasileiras produtor de assimetrias entre
grupos com marcas raciais distintas, no caso de negros e brancos, as desigualdades raciais tem na operacionalização do racismo seu mote ofensivo e poderoso, ao mesmo tempo em que a classe social isolada e insuficiente na compreensão e superação do problema racial do Brasil. Portanto, na adoção de políticas de combate as desigualdades raciais no ensino superior, caberia também a utilização de medidas etnicamente referenciadas. Autores como Hall (2008) e Fraser (2006), ao trazerem a dimensão articulada e bifocal das injustiças simbólicas e das injustiças econômicas, permitem entender a complementaridade e as dinâmicas entre ambas, deslocando-se de determinismos classistas que invisibilizam o racismo como instrumento opressor nas relações sociais. Como objetivos específicos, considera: compreender o processo de construção do modelo de cotas da UFES, para ingresso nos cursos de graduação implementado em 2008, sob a perspectiva do debate da relação entre raça e classe; examinar as políticas de ações afirmativas como respostas as demandas históricas dos afro-brasileiros no contexto da sociedade brasileira; avaliar a posição de professores e alunos de cursos de graduação da UFES diante do ingresso de alunos cotistas, sobretudo afro-brasileiros e pobres; e investigar a relação das políticas classistas, no caso especifico das cotas sociais, na superação das assimetrias raciais. Adota como procedimentos metodológicos a metodologia dialética de pesquisa considerando todas as contradições entre raça e classe no processo de implementação de ações afirmativas na UFES. Como instrumentos de pesquisa, utiliza entrevistas de professores e alunos cotistas e não cotistas de cursos variados da universidade, assim como documentos referentes à temática. Os resultados apontam para uma oxigenação da universidade depois de uma entrada maior de negros e pobres, principalmente nos cursos mais elitizados, pois as cotas operam uma dimensão pedagógica de ampliar a diversidade social na academia, trazendo outras demandas, outras afetividades, outras lógicas de mundo e concepções de sociedade para a única universidade publica do Espírito Santo. Indica que os mecanismos discriminatórios e estigmatizastes interpessoais e institucionais, vividos no contexto das cotas sociais e explícitos na pesquisa, não inviabilizam a importância das ações afirmativas, pois apontam para a universidade repensar e ressignificar seus currículos e ações pedagógicas homogeneizantes no sentido de ampliar a idéia de inclusão e de democratização de seus espaços. Reitera que a raça, em seu viés político e cultural, e operante de forma relacional e independente com a classe social no contexto da produção das assimetrias raciais brasileiras, de maneira que a ação de uma não nega a ação da outra, mesmo na relação entre ambas. Enfatiza a importância do entendimento e da materialidade das ações afirmativas como políticas de reconhecimento que combateriam as desigualdades simbólicas na UFES. Aponta a relevância das políticas de assistência estudantil, conjugadas as cotas, como políticas de redistribuição econômica, que lidariam com as dificuldades ou ausências materiais dos discentes, principalmente dos cotistas. Conclui que as cotas etnico-raciais nas universidades brasileiras são instrumentos legítimos de luta pela educação, um direito social de oportunidade dos grupos historicamente apartados de princípios constituidores da emancipação, da cidadania, dos direitos humanos, da justiça social, da igualdade e da diferença." (Santos, 2014)

Leia este estudo na íntegra acessando: http://educacao.ufes.br/pos-graduacao/PPGE/detalhes-da-tese?id=8323

DINÂMICAS DO RELEVO: OS AGENTES MODELADORES E AS PRINCIPAIS FORMAS DE RELEVO ENCONTRADAS NO ESPÍRITO SANTO

Objetivos desta aula:

  1. Conceituar relevo; 
  2. Compreender o que são e como agem os principais agentes externos modeladores;
  3. Entender a influencia da dinâmica do relevo na composição da paisagem;
  4. Visualizar as principais formas de relevo encontradas no Espírito Santo.


 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Falar em racismo reverso é como acreditar em unicórnios

Artigo por Djamila Ribeiro
Publicado originalmente no Carta Capital e republicado no Portal Geledes¹

Imagem/Divulgação²
Em quase todas as discussões sobre racismo, aparece alguém para dizer que já sofreu racismo por ser branco ou que conhece um amigo que sim. Pessoa, esse texto é para você.

Não existe racismo de negros contra brancos ou, como gostam de chamar, o tão famigerado racismo reverso. Primeiro, é necessário se ater aos conceitos. Racismo é um sistema de opressão e, para haver racismo, deve haver relações de poder. Negros não possuem poder institucional para serem racistas. A população negra sofre um histórico de opressão e violência que a exclui.

Para haver racismo reverso, deveria ter existido navios branqueiros, escravização por mais de 300 anos da população branca, negação de direitos a essa população. Brancos são mortos por serem brancos? São seguidos por seguranças em lojas? Qual é a cor da maioria dos atores, atrizes e apresentadores de TV? Dos diretores de novelas? Qual é a cor da maioria dos universitários? Quem são os donos dos meios de produção? Há uma hegemonia branca criada pelo racismo que confere privilégios sociais a um grupo em detrimento de outro.

Em agosto deste ano, Danilo Gentili quis comparar o fato de ser chamado de palmito com o fato de um negro ser chamado de carvão. E disse ser vítima de racismo, mostrando o quanto ignora o conceito. Ser chamado de palmito pode até ser chato e de mau gosto, mas racismo não é. A estética branca não é estigmatizada. Ao contrário, é a que é colocada como bela, como padrão. Danilo Gentili cresceu num País onde pessoas como ele estão em maioria na mídia, ele desde sempre pôde se reconhecer. Pode até ser chato, mas ele não é discriminado por isso. Que poder tem uma pessoa negra de influenciar a vida dele por chamá-lo de palmito? Nenhum. Agora, um jovem negro pode ser morto por ser negro, eu posso não ser contratada por uma empresa porque eu sou negra, ter mais dificuldades para ter acesso à universidade por conta do racismo estrutural. Isso sim tem poder de influenciar minha vida. Racismo vai além de ofensas, é um sistema que nos nega direitos.

Gentili com esse discurso de falsa simetria só mostra o quanto precisa estudar mais. Não se pode comparar situações radicalmente diferentes. Quantas vezes esse ser foi impedido de entrar em algum lugar por que é branco? Em contrapartida, a população negra tem suas escolhas limitadas. Crianças negras crescem sem auto-estima porque não se veem na TV, nos livros didáticos. Mesmo raciocínio se aplica às loiras que são vítimas de piadas de mau gosto ao serem associadas à burrice.

É óbvio que se trata de preconceito dizer que loiras são burras e isso deve ser combatido. Mas não existe uma ideologia de ódio em relação às mulheres loiras, elas não deixaram de ser a maioria das apresentadoras de TV, das estrelas de cinema, das capas de revistas por causa disso. Não são barradas em estabelecimentos por serem brancas e loiras. Sofrem com a opressão machista, sim, mas não são discriminadas por serem brancas porque o grupo racial a que fazem parte é o grupo que está no poder. Há que se fazer a diferenciação aqui entre sofrimento e opressão. Sofrer, todos sofrem, faz parte da condição humana, mas opressão é quando um grupo detém privilégios em detrimento de outro. Ser chamado de palmito é ruim e pode machucar, mas não impede que a pessoa desfrute de um lugar privilegiado na sociedade, não causa sofrimento social.

Uma amiga, na infância, uma vez, não deixou que eu e meus irmãos entrássemos na sua festa, apesar de nos ter convidado, porque seu tio não gostava de negros. E nos servia na calçada da casa dela até que, indignados, fomos embora. Alguma pessoa branca já passou por isso exclusivamente por ser branca?

Muitas vezes o que pode ocorrer é um modo de defesa, algumas pessoas negras, cansadas de sofrer racismo, agem de modo a rejeitar de modo direto a branquitude, mas isso é uma reação à opressão e também não configura racismo. Eu posso fazer uma careta e chamar alguém de branquela. A pessoa fica triste, mas que poder social essa minha atitude tem? Agora, ser xingada por ser negra é mais um elemento do racismo instituído que, além de me ofender, me nega espaço e limita minhas escolhas. Vestir nossa pele e ter empatia por nossas dores, a maioria não quer. Melhor fingir-se de vítima numa situação onde se é o algoz. Esse discursinho barato de “brancofobia” quando a população branca é a que está nos espaços de poder faz Dandara se remexer no túmulo.

Não se pode confundir racismo com preconceito e com má educação. É errado xingar alguém, óbvio, ser chamado de palmito é feio e bobo, mas racismo não é. Para haver racismo, deve haver relação de poder, e a população negra não é a que está no poder. Acreditar em racismo reverso é mais um modo de mascarar esse racismo perverso em que vivemos. É a mesma coisa que acreditar em unicórnios, só que acreditar em cavalos com chifres não causa mal algum e não perpetua a desigualdade.

____________________
¹ Disponível em Geledés http://www.geledes.org.br/falar-em-racismo-reverso-e-como-acreditar-em-unicornios/#ixzz3pyAx2yUO. Acesso 29 out 2015
² Tirinha disponível em <https://ultralafa.files.wordpress.com/2015/08/tirinha-racismo.jpg> acesso 29 out 2015. 

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

DOIS CASOS DE RACISMO EM DOIS DIAS DE COPA


Jornal A Tribuna (17/06/2014, p.25)
O Brasil  entra em campo contra a Croácia. Na jogada que definiu o único gol croata no duelo a bola desviada por Jelavic tocou o pé do lateral Marcelo e foi direto para o fundo das redes. Neste momento, instantaneamente se iniciaram os insultos racistas contra o brasileiro no Twitter. 

No dia seguinte, foi a vez da então campeã do Mundo, a Espanha, disputar seu primeiro jogo na competição. A mesma foi surpreendida ao sofrer uma expressiva goleada da Laranja Mecânica, a Holanda. De imediato, as críticas e brincadeiras dos brasileiros se proliferam. O que revoltou a torcida espanhola. Nas redes sociais, o primeiro argumento acionado pelos europeus para rebater as críticas foi proferir contra a torcida brasileira comentários racistas. Alguns destes narrados na reportagem do portal UOL, que noticiou o fato. Um exemplo marcante: “Esses macacos brasileiros, como sabem, não tem nada para fazer, se alegram com a derrota da Espanha e fazem ‘ola’. Pobres”.

Estes dois casos de racismo explícito são apenas alguns exemplos do que sempre aconteceu  no futebol mundial. Quem não se lembra dos problemas enfrentados pelo Vasco da Gama devido ao fato de permitir que negros entrassem em campo para defender seu escudo em meados do século passado?

Infelizmente, não é preciso ir tão longe para identificarmos que esta prática ainda se mantém de forma extremamente enraizada no futebol. O ano de 2014, em especial, está sendo propício para proliferação de atos racistas que ocorrem de maneira mais evidente principalmente devido às denúncias que se propalam  nas redes sociais. Em apenas seis meses, foram cinco casos muito emblemáticos de racismo no mundo da bola.

Em fevereiro, o meio-campista cruzeirense Tinga foi alvo de insultos racistas na partida contra o Real Garcilaso, da Bolívia. Durante o jogo em Huancayo, o jogador ouviu das arquibancadas imitações dos guinchos de macacos a cada vez que tocava na bola.

Semanas após este episódio, eis que o futebol mundial volta a protagonizar mais casos de racismo. O jogador do Daniel Alves, do Barcelona, foi vítima de ato semelhante em abril, durante o jogo contra o Villarreal. Na ocasião, torcedores do time adversário jogaram bananas no campo quando o atleta ia cobrar um escanteio. Rapidamente, Alves comeu a banana em resposta ao protesto.

Já em maio a bola da vez foi o atacante da Itália, Mario Balotelli. O atleta sofreu insultos racistas no centro de treinamento de Coverciano, em Florença, onde a seleção da Itália fazia sua preparação para a Copa do Mundo do Brasil. O italiano foi xingado por alguns torcedores enquanto fazia uma corrida no gramado.

Se observarmos os casos de racismo ocorridos nos últimos anos neste esporte, perceberemos que, assim como no cotidiano brasileiro, os alvos são sempre os negros. O que evidencia ainda hoje resquícios do período da escravidão muito enraizados na sociedade e no esporte. Isso nos leva a refletir sobre a importância de debater também no futebol formas de combate a esta prática perversa. Mas para que isso aconteça, temos primeiro que admitir que não #SomosTodosMacacos, mas sim racistas, e que debater e criar mecanismos de combate a esta prática também no futebol se mostra necessário e evidente!

Talvez a solução esteja em pensar à implementação da lei  Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e particulares da educação, também nosso futebol.

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*Texto publicado originalmente na coluna "Tribuna Livre" do Jornal A Tribuna (17/06/2014, p.25)

Tratamento reservado aos negros da região norte do Espírito Santo no século XX

Esta é uma das fotos da exposição permanente do Museu Africa-Brasil. 


Trata-se de uma foto registrada a partir de uma imagem figura disponível no referido museu.


Sabe como as elites esconderam a escravidão negra no Brasil?

Imagens que registrei durante visita ao Museu África-Brasil, localizado na cidade de São Mateus/ES.




Fotos: Josimar Nunes Pereira de Freitas

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